Imagine uma cena em que um casal de pais conservadores é questionado, pela filhinha de quatro anos, a respeito do modo pelo qual ela veio ao mundo, como ela foi “produzida”. Já que a própria garotinha não acredita na tal da cegonha. Agora imagine a cara desse casal arquitetando uma possível resposta. Então, é praticamente desse mesmo jeito que muita gente fica ao tentar decifrar o tipo de som que a Paralaxe faz. A banda consegue realizar uma música bem peculiar, e isso não é exagero. Ela parece caminhar em um universo paralelo da música produzida por ai. O som é um misto de pop mais rock mais elementos eletrônicos mais letras com imagens fortes mais uma pancada de referências à cultura pop, cosmologia, arte, enfim, à vida. Seja ela qual for, terráquea ou marciana. Só mesmo escutando para se ter uma idéia. Paralaxe é um dos bons nomes representantes da nova safra musical de Belo Horizonte, mas o som é universal. Principalmente pelas letras que causam espanto e curiosidade. Alguns dizem que para escutar os discos seria preciso ficar com uma janela do Google aberta para procurar pelas citações e toda a gama de informações ali presentes. Isso também não é exagero. E mesmo com tanta informação, as músicas não se tornam herméticas. Pelo contrário, proporcionam curiosidade ao ouvinte. Funcionam como saudosas aulas de cultura pop e seus personagens mais estranhos, adorados, detestados, desconhecidos, etc. Mas não pense que esses personagens são meras figuras que estão do outro lado do mundo e não fazem parte do nosso mundinho real. Nós somos retratados nas letras da Paralaxe sim! O seu vizinho psicopata está lá, a babá que veio do interior, seu amigo estranho, enfim, todo mundo. Como “Clubber do Milharal”, história de uma garota que organizava raves no interior de Minas; “Retrato”, recortes e versos de Hendrix transportados para Saturno; “Acho que Passei do Tempo”, no qual um indivíduo faz a barba até sangrar para esconder-se do tempo que passou. Além de “Bin Laden é o Bruce Wayne”, que versa sobre... bem o nome já fala por si só; “Catch a Rising Star”, um épico contemporâneo de uma tal mulher que sai do interior em direção a um grande centro urbano; “Juliano Doido”, um atordoado conhecido da escola; entre tantas outras pérolas musicais espalhadas pelos dois trabalhos da banda, “Paralaxe” (2005) e “Under Pop Pulp Fiction” (2007). Os dois álbuns lançados contam com a formação de Fredhc (vocal e programações) e Rafael Carneiro (guitarra, baixo e teclado). Agora completam a trupe João de Deus Jr. (teclados e synths) e Giovanni Duarte (bateria), que fazem parte da transição da banda de um formato mais eletrônico para um mais “orgânico”. E o resultado dessa transição é um novo disco, em fase de pré-produção, com previsão de lançamento ainda em 2008. E enquanto o novo álbum da Paralaxe não aparece, vale a pena conferir os dois primeiros trabalhos, disponíveis para download no site/blog da banda (www.bandaparalaxe.blogspot.com). * Lafaiete Junior escreve para o site Alto-Falante e é colaborador de Senhor F.
Anônimo disse...
Estou quase convencido que "Janine", personagem central do conto "A mulher adúltera" de Camus seja a referência direta de "Catch a Rising Star". No conto do filósofo ela enfrenta um problema complexo: seu exílio é seu próprio corpo ( e na música: "seu corpo era o seu porto um lacaniano desafio..."). Embora Janine estivesse lá (em NYC), nada se assemelhava ao que havia imaginado. Há o problema das expectativas, das esperanças sempre alardeadas por Camus... O sentimento que se está vivendo num mundo estranho, num cenário diferente do que devia ser. No conto: "Janine não conseguia se arrancar à contemplação desses fogos à deriva. Girava com eles, e o mesmo caminhar imóvel unia-a, pouco a pouco, ao seu ser mais profundo, onde o frio e o desejo agora se combatiam. Diante dela, as estrelas caíam uma a uma (CATCH A RISING STAR???), depois extinguiam-se entre as pedras do deserto; a cada vez, Janine abria-se um pouco mais para a noite. Respirava, esquecia o frio, o peso dos seres, a vida demente ou imobilizada, a longa angústia de viver e morrer. (Na música: "...virou um fluido urbano americano sem refil, morreu no fim de março sem espaço em daily news..."
2 comentários:
Estou quase convencido que "Janine", personagem central do conto "A mulher adúltera" de Camus seja a referência direta de "Catch a Rising Star". No conto do filósofo ela enfrenta um problema complexo: seu exílio é seu próprio corpo ( e na música: "seu corpo era o seu porto um lacaniano desafio...").
Embora Janine estivesse lá (em NYC), nada se assemelhava ao que havia imaginado. Há o problema das expectativas, das esperanças sempre alardeadas por Camus... O sentimento que se está vivendo num mundo estranho, num cenário diferente do que devia ser. No conto: "Janine não conseguia se arrancar à contemplação desses fogos à deriva. Girava com eles, e o mesmo caminhar imóvel unia-a, pouco a pouco, ao seu ser mais profundo, onde o frio e o desejo agora se combatiam. Diante dela, as estrelas caíam uma a uma (CATCH A RISING STAR???), depois extinguiam-se entre as pedras do deserto; a cada vez, Janine abria-se um pouco mais para a noite. Respirava, esquecia o frio, o peso dos seres, a vida demente ou imobilizada, a longa angústia de viver e morrer. (Na música: "...virou um fluido urbano americano sem refil, morreu no fim de março sem espaço em daily news..."
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